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ARTIGO ORIGINAL

Uso do balão intra-aórtico no choque cardiogênico no pós-operatório de cirurgia cardíaca: análise prospectiva durante 22 meses

Fabiano G. JUCÁ0; Luiz Felipe P. MOREIRA0; Maria José C. CARMONA0; Noedir A. G Stolf0; Adib D Jatene0

DOI: 10.1590/S0102-76381998000400009

RESUMO

O balão intra-aórtico é um dispositivo de assistência circulatória mecânica utilizado nos casos de falência ventricular per-operatória. Neste estudo foram seguidos todos os pacientes submetidos a inserção de balão intra-aórtico durante 22 meses, no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor). Apesar de não conseguirmos demonstrar evidência estatisticamente significativa de mortalidade entre os dados comparados (tipo de operação, levando-se em conta urgência, idade, sexo, presença de problemas médicos, classe funcional, função cardíaca, tempo de pinçamento da aorta, tipo de circulação extracorpórea, suporte e complicações), o estudo demonstrou o universo de pacientes em nossa Instituição submetidos ao procedimento.

ABSTRACT

Intra-aortic balloon pump is a cardiac assist device developed to help in recovery from postcardiotomy heart failure. All patients submitted to intra-aortic balloon pump were followed prospectively at the Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-InCor over a period of 22 months. Although we did not find statistically significant evidence of correlation between mortality and patient data (Surgery done, emergency or not, redo or not, age, gender, medical problem, functional class, cardiac function, clamp, bypass, and support time and complications) the evaluation showed our patient universe in the InCor Institute.
INTRODUÇÃO

Com o desenvolvimento de um trabalho que teve início em 1937 e culminou com o sucesso da primeira cirurgia cardíaca "a céu aberto" com o uso da circulação extracorpórea por GIBBON Jr. (1, 2) em 1953, vários pesquisadores foram estimulados a encontrar um método de assistência circulatória ao coração insuficiente. Foram, então, empregadas máquinas semelhantes à de Gibbon, para dar suporte a pacientes em falência pós infarto agudo do miocárdio e em pós-operatório de cirurgia cardíaca (3); porém limitações teóricas e práticas se apresentavam (4). Desenvolveu-se, também, o princípio da contrapulsação arterial, ou seja, método de assistência circulatória em série de acordo com o ciclo cardíaco, em 1953, por KANTROWITZ (4), porém com vários problemas, como a hemólise, fato que levou ao desenvolvimento, em 1962, de um balão de contrapulsação intra-aórtico por Moulopoulos Kantrowitz et al. (5), sendo o primeiro estudo clínico apresentado no JAMA, por KANTROWITZ et al. (6), em 1968, que o utilizaram em 7 pacientes em choque cardiogênico pós infarto agudo do miocárdio. Hoje, o balão intra-aórtico é largamente utilizado na falência ventricular esquerda ou choque cardiogênico, complicações agudas do infarto do miocárdio, pacientes com angina instável refratária ao tratamento clínico, nas arritmias pós infarto, no suporte a pacientes submetidos a terapêutica trombolítica, pacientes submetidos a angioplastias de alto risco, na cirurgia cardíaca, como ponte para transplante cardíaco e, principalmente, após 1979, com o desenvolvimento dos cateteres de inserção percutânea (7). Seu efeito hemodinâmico está baseado na redução da pós-carga e aumento da perfusão miocárdica durante a diástole resultando num aumento do débito cardíaco (8-13).

CASUÍSTICA E MÉTODOS

Foram estudados 98 casos consecutivos de inserção de balão intra-aórtico, no período de 1 de janeiro de 1996 a 1 de novembro de 1997, em um universo de 2728 adultos operados no InCor, quanto a morbimortalidade, analisando-se idade, sexo, tipo de cirurgia, problema médico existente, tempo de circulação extra-corpórea, pinçamento e permanência do dispositivo, classificação de angina (Canadian Cardiovascular Society Classification), classe funcional (New York Heart Association), existência de infarto no pré-operatório, função do ventrículo esquerdo e complicações decorrentes do uso do balão. Utilizamos cateteres Percor Stat-DL Dual Lumen Intra-Aortic Balloon Catheter with Stat Gard 9,5 Fr 40cc da marca Datascope Cardiac Assist Division Montvale, NJ, USA e consoles Datascope System 90 Intra-Aortic Balloon Pump, Datascope Corp., Paramides, NJ. O cateter foi introduzido após dissecção e exposição da artéria femoral comum do membro inferior de melhor propedêutica vascular, por punção e contra abertura da artéria pela técnica de Seldinger. Realizou-se, radiografia de tórax para certificar-se da correta posição do balão na aorta descendente ao nível do segundo espaço intercostal, sendo administrada heparina ou dextran 40 quando de sua contra-indicação. Antibioticoterapia profilática com Zinacef foi administrada de rotina. O seguimento do paciente foi realizado pelo prontuário, pelo contato com cardiologistas e auxílio da Unidade de Recuperação Cardíaca e de Controle do Paciente Cirúrgico do InCor. Foram comparados os dados obtidos com a morbi-mortalidade utilizando a análise univariada de risco pelo teste T de Student e exato de Fisher para variáveis discretas.

MÉTODOS E RESULTADOS

No período de 1 de janeiro de 1996 a 1 de novembro de 1997 foram submetidos a cirurgia cardíaca 2728 adultos, sendo desses, 1481 revascularizações, 788 operações valvares (trocas e plastias), 278 procedimentos associados e 181 outros procedimentos (aneurisma de aorta, ventrículo esquerdo, ventriculectomias redutoras, transplante cardíaco, cardiomioplastia etc.), implantando-se o balão intra-aórtico em 4% das revascularizações, 0,9% das operações valvares, 0,8% das operações combinadas e 8% das outras operações. A média de idades foi de 58 anos, 71,4% homens e 28,6% mulheres, com 91,8% dos pacientes apresentando problemas médicos, 14,25 dos casos consistindo em procedimentos de emergência, 23,4% de reoperações e 56,12% dos pacientes em classe funcional III / IV, 52,04% com fração de ejeção do ventrículo esquerdo menor que 30,50% com presença de IAM pré-operatório e 39,7% dos pacientes em escala de angina grau 3 e 4. O tempo médio de pinçamento da aorta foi de 54,84 minutos, com tempo médio de circulação extracorpórea de 139,73 minutos. No pós-operatório, o tempo médio de uso do suporte foi de 50,22 horas com 8% de complicações inerentes ao balão e 40% de outras complicações, como broncopneumonia, insuficiência renal, coagulopatias e neurológicas, e 44% de óbitos (14-16).

COMENTÁRIOS

O balão intra-aórtico juntamente com aparelhos de assistência ventricular, bombas centrífugas e oxigenadores de membrana são dispositivos utilizados no auxílio à resolução da falência ventricular pré e per-operatória sendo, porém, o balão intra-aórtico o mais amplamente utilizado. A mortalidade associada e a necessidade de seu auxílio têm-se mantido relativamente sem mudanças nos últimos 10 anos, apesar de melhora nas técnicas cirúrgicas, da proteção miocárdica e tecnologia médica, fato que se deve principalmente ao aumento na média de idades dos pacientes operados, assim como freqüência de reoperações, operações de emergência, e a gravidade dos pacientes. Alguns fatores de risco no pré-operatório poderiam estar associados a um pior prognóstico do paciente; porém a nossa análise estatística não mostrou diferença estatisticamente entre os dados. Uma forma de predizer a recuperação cardíaca com o uso do balão intra-aórtico ainda não foi encontrada, apesar da relativa segurança de seu uso; nosso estudo sugere tópicos para futuros ensaios (13-16).

CONCLUSÕES

Não foi evidenciada diferença estatisticamente significante entre os dados comparados, ou seja, não foi possível associar os fatores citados, como preditores de mortalidade (p>0,05), porém o estudo serviu para demonstrar o universo de pacientes em nossa Instituição submetidos ao auxílio hemodinâmico do balão intra-aórtico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 Gibbon J H Jr. - Artificial maintenance of circulation during experimental occlusion of pulmonary artery. Arch Surg 1937; 34: 1105-31.

2 Gibbon J H Jr. - Application of a mechanical heart and lung apparatus to cardiac surgery. Minn Med 1954; 37: 171-80. Apud Ghosh P K - Precedents and perspectives. In: Unger F, ed. Assisted circulation. 3. ed. Berlin: Springer Verlag 1989. p.14.

3 Stuckey J H, Newman M M, Dennis C et al. - The use of the heart-lung machine in selected cases of acute massive myocardial infartion. Surg Forum 1957; 3: 342-4.

4 Kantrowitz A - Experimental augmentation of coronary flow by retardation of the arterial pressure pulse. Surgery 1953; 34: 678-87.

5 Kantrowitz A, Krakauer J S, Zorzi G et al. - Current status of intraaortic balloon pump and initial clinical experience with aortic patch mechanical auxiliary ventricle. Transplant Proc 1971; 3: 1459-72.

6 Kantrowitz A, Tjonneland S, Freed P S, Phillips S J, Butner A N, Sherman J I Jr. - Initial clinical experience with intraaortic balloon pumping in cardiogenic shock. JAMA 1968; 203: 113-8.

7 Wolvek S - The evolution of the intraaortic balloon: the Datascope contribution. J Biomater Appl 1989; 3: 527-43.

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Article receive on terça-feira, 1 de setembro de 1998

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