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CORRELAÇÃO CLÍNICO-CIRÚRGICA

Correção de coarctação de aorta com interposição de tubo em criança de 12 anos

Ulisses Alexandre Croti; Domingo M Braile; Daniela Patini Espada; Betsy Maria Villegas

DOI: 10.1590/S0102-76382010000400028



DADOS CLÍNICOS

Criança do sexo feminino, 12 anos, 53 kg, raça negra, oriunda de Palestina, SP.

Encaminhada à pediatria do nosso hospital por apresentar hipertensão arterial sistêmica (240/140 mmHg) durante procedimento cirúrgico para retirada de um cisto sinovial na mão direita.

A anamnese de admissão no Serviço de Cardiologia Pediátrica identificou cefaleia holocraniana como único sintoma, sem uso de medicamentos.

O exame físico evidenciou diferença pressórica entre os membros superiores e inferiores, sendo 190/140 mmHg em membro superior esquerdo, 190/140 mmHg em membro superior direito, 130/100 mmHg em membro inferior esquerdo e 130/90 mmHg em membro inferior direito, além de pulsos inferiores diminuídos. As bulhas cardíacas eram normofonéticas com sopro sistólico +/6+ em bordo esternal esquerdo baixo. Não foi notado sopro em dorso.

ELETROCARDIOGRAMA

Ritmo sinusal, frequência de 70 bat/min, SÂP + 60º, SÂQRS + 60°, PR 0,16 s, QRS 0,10 s, QT 0,40, QTc 0,42. Sobrecarga ventricular esquerda e alteração difusa da repolarização ventricular (Figura 1).



Fig. 1 - Eletrocardiograma pré-operatório com sobrecarga ventricular esquerda



RADIOGRAFIA

Situs solitus visceral em levocardia. Erosão nos bordos inferiores costais. Área cardíaca discretamente aumentada, redução da transparência em base pulmonar à direita por possíveis lesões do espaço aéreo.

ECOCARDIOGRAMA

Situs solitus em levocardia, coarctação de aorta segmentar com repercussão hemodinâmica, comunicação interventricular muscular trabecular mínima detectada apenas ao Doppler e valva aórtica bivalvular sem disfunção [1].

Aorta ascendente com 29 mm, crossa antes do tronco braquiocefálico 22 mm, entre o tronco braquiocefálico e a artéria subclávia esquerda 7 mm. A fração de ejeção era de 68,1%.

TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE MÚLTIPLOS DETECTORES

Redução segmentar de calibre da crossa aórtica na porção descendente com cerca de 2,2 cm de comprimento. Notam-se, também, vasos colaterais distalmente à região acometida (Figura 2 / Vídeo 1)


Fig. 2 / Vídeo 1 (http://www.rbccv.org.br/video/v25n4b/) - Imagem em corte sagital demonstrando a coarctação de aorta segmentar obtido pela tomografia computadorizada de múltiplos detectores



DIAGNÓSTICO

Fundamentalmente, deve ser salientado que o diagnóstico poderia facilmente ter sido realizado na cidade de origem com a simples medida pressórica nos quatro membros. Deve-se destacar, também, o fato de uma doença tão grave apresentar-se com pouco ou quase ausência de sintomas até a adolescência [2].

Os exames complementares confirmaram o diagnóstico, sendo iniciado tratamento medicamentoso adequado e indicada operação para correção do defeito.

OPERAÇÃO

Criança em decúbito lateral direito, toracotomia láteroposterior, abertura da pleura parietal, dissecção ampla da crossa da aorta, região coarctada, aorta descendente, artéria subclávia esquerda e isolamento cuidadoso das artérias intercostais.

Observado longo segmento da aorta com diminuição de calibre, entre a artéria subclávia esquerda e a aorta descendente (Figura 3).


Fig. 3 - Segmento de aorta comprometido após ampla dissecção. Nota-se a presença de artérias intercostais reparadas com fios de algodão



Pinçamento lateral da aorta descendente abaixo da região acometida, incisão lateral e anastomose términolateral de tubo de politetrafluoretileno (PTFE) nº 16. Seccionando a outra extremidade do tubo em bisel, este foi anastomosado também de forma término-lateral na aorta junto à origem da ASE, que também foi pinçada lateralmente. Os tempos de isquemia para as anastomoses foram respectivamente 10 e 12 minutos, sem auxílio de circulação extracorpórea [3]. As suturas foram realizadas com fios de polipropileno 5-0 (Figura 4 /Vídeo 2).


Fig 4/Video2 - Tubo de politetrafluoretileno nº16 implantado, sem auxílio de circulação extracorpórea, entre a aorta junto à origem da artéria subclávia esquerda e aorta descendente abaixo do segmento comprometido



O frêmito observado no tubo após as anastomoses indicava alto fluxo sanguíneo, que foi confirmado pelo ecocardiograma no pós-operatório.

A paciente recebeu alta hospitalar após 35 dias de internação, devido a deiscência da sutura, necessidade de antibioticoterapia e oxigenoterapia hiperbárica.

REFERÊNCIAS

1. Perloff JK. The variant associations of aortic isthmic coarctation. Am J Cardiol. 2010;106(7):1038-41. [MedLine]

2. Tanous D, Benson LN, Horlick EM. Coarctation of the aorta: evaluation and management. Curr Opin Cardiol. 2009;24(6):509-15. [MedLine]

3. Carvalho MVH, Pereira WL, Gandra SMA, Rivetti LA. Coarctação de aorta no adulto: a respeito de um caso e sobre desvios extra-anatômicos. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2007;22(4):501-4. [MedLine] Visualizar artigo

Article receive on segunda-feira, 25 de outubro de 2010

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