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EDITORIAL

Pesquisa com animais e a cirurgia cardiovascular

Domingo M. Braile

DOI: 10.5935/1678-9741.20130068

A invasão ao Instituto Royal, em São Roque, SP, no último dia 18 de outubro, na qual dezenas de cães da raça Beagle foram retirados do local por ativistas, criou uma enorme polêmica, amplificada pela grande difusão na mídia e na internet. Além disso, a ação dos ativistas teve como consequência o fechamento do laboratório. Não só isso. Muitas instituições que usam animais como modelo experimental têm sofrido pressões e ameaças, sendo obrigadas a paralisar seu trabalho. Em muitas instituições, as atividades de ensino e treinamento dos residentes que utilizam animais vêm sendo progressivamente substituídas por simuladores e experimentos com corações de porcos obtidos de frigoríficos. É uma situação que merece reflexão por parte de todos. Como cirurgiões "cientistas", somos obrigados a analisar essa questão de um ponto de vista objetivo, sem o tom emocional de pessoas levadas pela paixão e pela irracionalidade.

Esse "ativismo" não se restringe ao Brasil. Na Itália, por pressão dos ativistas, uma lei de restrição de pesquisas com animais, aprovada pelo parlamento e aguardando sanção presidencial, tem sofrido críticas dos cientistas. Um abaixo-assinado pedindo a revisão da lei havia conseguido, até o início de dezembro, 13 mil adesões. Segundo essa lei, partir de 2017, será proibido o uso de animais para pesquisa, experimentos relativos ao abuso de drogas e xenotransplante. Ela proíbe, também, a criação de cães, gatos e primatas não humanos para fins científicos, embora o Ministério da Saúde possa autorizar o seu uso para a pesquisa básica que vise ao tratamento de doenças humanas e animais graves. Finalmente, acaba com o uso de animais nos cursos universitários de ciências, medicina incluída, com exceção de veterinária.

A utilização de animais em pesquisas científicas data de séculos. A cirurgia cardiovascular, especificamente, deve muito às pesquisas com animais para chegar ao atual estágio, salvando milhões de vidas ao redor do planeta. Pioneiros, como Clarence Dennis, John Gibbon, Walton Lillehei, entre dezenas de outros, em meados do século XX, usaram cães para desenvolver a circulação extracorpórea [1].

A Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular/Brazilian Journal of Cardiovascular Surgery (RBCCV/BJCVS) tem publicado regularmente artigos reportando pesquisas com animais. Nesta edição, o artigo "Reversible pulmonary trunk banding. IX. G6PD activity of adult goat myocardium submitted to ventricular retraining", de Renato Assad e colegas (pág. 482), é um exemplo ao utilizar cabras para medir a atividade miocárdica da Glicose 6-Fosfato Desidrogenase.

A RBCCV/BJCVS mantém seu compromisso com a ética ao explicitar em suas Normas aos Autores que: "Nos trabalhos experimentais envolvendo animais, devem ser respeitadas as normas estabelecidas no Guide for the Care and Use of Laboratory Animals (Institute of Laboratory Animal Resources, National Academy of Sciences, Washington, D.C., Estados Unidos), de 1996, e em Princípios Éticos na Experimentação Animal (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal - COBEA, disponível em: www.cobea.org.br), de 1991".

Também a exigência do envio, quando da submissão do manuscrito, de uma cópia do parecer do Comitê de Ética e Pesquisa da Instituição autorizando a pesquisa, é uma forma de assegurar que as normas estão sendo cumpridas.

Lembro que a moral, a ética e as leis são a representação do desejo das maiorias e devem ser respeitadas.

 

CITAÇÕES

Recebi, com muita satisfação, um e-mail do Dr. Antonio Alceu dos Santos, informando que o artigo "Heart retransplantation in children without the use of blood product", publicado no volume 27.2 da RBCCV, do qual ele é o primeiro autor, foi um dos "top 20" da área da cirurgia cardíaca pediátrica, de acordo com o site de buscas BioMedLib (www.biomedlib.com). Isso demonstra que a internacionalização de nossa revista é uma realidade.

Tenho enfatizado que por meio dos nossos site (www.rbccv.org.br, www.bjcvs.org e www.scielo.br/rbccv) somos acessados em mais de 100 países, por cerca de 7 mil leitores diariamente. Por isso, insisto na necessidade dos trabalhos terem alto padrão científico e, de preferência, escritos em inglês, a fim de que as "visitas" aos nossos sites possam transformar-se em citações, única forma de elevarmos o nosso Fator de Impacto.

Nesta edição, publicamos um trabalho - Repair of aortic root in patients with aneurysm or dissection: comparing the outcomes of valvesparing root replacement with those from the Bentall procedure (pág. 435), originário dos Estados Unidos. É uma prova de que estamos atingindo nossos objetivos e nos dá mais ânimo para seguir em frente, com o apoio incondicional que temos recebido dos colegas.

APP

Temos ampliado as plataformas nas quais a RBCCV pode ser acessada. O nosso aplicativo para smartphones e tablets já está disponível na Google Store. O aplicativo para os aparelhos que usam o sistema IOS está em fase de finalização e logo também poderá ser baixado.

XML

Lembro que, a partir de 2014, teremos que nos adaptar aos novos padrões de qualidade da SciELO, que vai exigir que as publicações adotem o padrão XML, o mesmo utilizado, pela Thomson Reuters e pelo PubMed Central, base de dados para qual estamos pleiteando nossa entrada. Sendo assim, solicito que todos sigam o padrão determinado pelas Normas da RBCCV, especialmente no que diz respeito às imagens. Nossa equipe esta à disposição para esclarecer eventuais dúvidas.

SBCCV

Não posso deixar de cumprimentar a atual Diretoria da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV), comandada pelo presidente, Prof. Dr. Walter Gomes, que encerra seu mandato. Muitas foram as conquistas para a nossa especialidade, além do apoio irrestrito à RBCCV. No Editorial da página III, o Dr. Walter faz um balanço da gestão. Aproveito para saudar também a nova diretoria, "capitaneada" pelo Dr. Marcelo Matos Cascudo, que certamente dará sequência ao trabalho.

EMC

Os artigos disponíveis para os testes pelo sistema de Educação Médica Continuada (EMC) são os seguintes: "Incidence of stroke and acute renal failure in patients of postoperative atrial fibrillation after myocardial revascularization" (pág. 442); "Results of medium-term survival in patients undergoing cardiac transplantation: institutional experience" (pág. 470); "Depression after CABG: a prospective study" (pág. 491); e "Mortality risk is dose-dependent on the number of packed red blood cell transfused after coronary artery bypass graft" (pág. 509).

Agradeço a todos que permitiram que a RBCCV/BJCVS mantivesse seu padrão de excelência em 2013. Associados e Diretoria da SBCCV, Corpo Editorial da RBCCV, Anunciantes e os colegas de várias especialidades que nos brindaram com seus excelentes artigos. Obrigado a todos pela inestimável colaboração e a confiança em mim depositada.

Recebam o meu abraço e meus desejos de que o Natal renove todas nossas esperanças e que 2014 seja pródigo em realizações.

REFERÊNCIAS

1. Braile DM, Godoy MF. História da cirurgia cardíaca no mundo. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2012;27(1):125-36. [MedLine] Visualizar artigo

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