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EDITORIAL

Valorizando a qualidade da pesquisa científica

Domingo M. Braile

DOI: 10.5935/1678-9741.20130046

A criação de uma série de índices bibliométricos para avaliar a produção científica, fato extremamente importante na tentativa de mensurar e valorizar o trabalho árduo dos cientistas, separando o joio do trigo, tem se desvirtuado nos últimos tempos. A busca por publicar trabalhos em revistas de maior impacto, especialmente de acordo com os critérios do fator de impacto (FI) adotados pela Thomson Reuters (ISI) e divulgado pelo Journal Citation Report (JCR), o índice mais adotado como parâmetro, acabou provocando um desequilíbrio, muitas vezes desviando-se da finalidade básica de tornar públicos os resultados de pesquisas e seus benefícios.

No Brasil, o Qualis, por meio de seus critérios de classificação dos periódicos científicos, como parte da avaliação dos programas de pós-graduação, induz os pesquisadores a publicarem seus trabalhos em revistas com FI elevado. Grande parte delas do Exterior, uma vez que a CAPES exige que os pesquisadores tenham pelo menos uma publicação em revistas no maior nível (A1), cujo fator de impacto é próximo a 4,0, única forma de manter ou melhorar a sua posição pessoal e do programa a qual esteja vinculado. A revista brasileira com maior índice é hoje a Revista Brasileira de Psiquiatria, com FI de 1.856, muito longe dos níveis exigidos pela CAPES.

 

DORA

Em uma tentativa de aprimorar a maneira pela qual a produção da pesquisa científica é avaliada por agências de fomento e instituições acadêmicas, editores e publishers de periódicos científicos reunidos durante o Encontro Anual da American Society for Cell Biology, realizado em dezembro de 2012, em San Francisco, EUA, elaboraram um documento, o San Francisco Declaration on Research Assessment, conhecido pelo acrônimo DORA [1].

O documento enfatiza que o FI foi criado como uma ferramenta para auxiliar os bibliotecários a identificar as revistas que poderiam ser adquiridas e não para medir a qualidade científica da pesquisa em um artigo. A partir disso, é feita uma crítica das limitações ao seu uso, como, por exemplo, a possibilidade de ser utilizado de forma indevida e a falta de transparência em relação aos dados usados para calcular o FI.

A seguir, o documento tem algumas recomendações, que deveriam ser seguidas pelas agências de fomento, instituições, editores, empresas que fornecem a métrica e pesquisadores. Entre as orientações aos editores, está reduzir significativamente a ênfase no fator de impacto dos periódicos (não apenas o da Thomson Reuters, mas também o da SCImago e Eigenfactor, entre outros) como uma ferramenta promocional; incentivar práticas responsáveis de autoria e de prestação de informações sobre as contribuições específicas de cada autor; e incentivar a citação da literatura primária (artigos originais) ao invés de artigos de revisão, a fim de dar o crédito ao grupo que relatou primeiramente um achado.

A Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular/Brazilian Journal of Cardiovascular Surgery (RBCCV/BJCVS) apoia o conteúdo da DORA, bem como outras iniciativas que favoreçam a divulgação da pesquisa científica de boa qualidade. Mais do que quantidade de citações, o valor de um artigo está em seu conteúdo. Deve ser escrito de forma clara e ter seus resultados reprodutíveis.

Reafirmo a importância dos índices bibliométricos e que o Corpo Editorial da RBCCV/BJCVS está direcionando todos os esforços para reveter a queda de nosso FI, que não atingiu apenas a publicação da SBCCV, mas quase todas as revistas brasileiras, pois as raras que subiram, o fizeram em pequena escala (A Figura 1 mostra um comparativo entre a RBCCV e três revistas brasileiras no Scimago). A nossa luta é para que esses indicadores não sejam os únicos meios para avaliar um periódico. Não se pode comparar, por exemplo, uma revista de cirurgia cardiovascular com as gerais, como o Lancet (FI = 39.060), a Science (FI = 31.027) e o British Medical Journal (FI = 17.215), pois comportam publicações e citações de todas as especialidades.

 

 

Para termos de comparação, cito o FI do Annals of Thoracic Surgery, de 3.454, e do European Journal of Cardio-Thoracic Surgery, de 2.674. Nenhuma dessas publicações atinge o índice de excelência exigido pela CAPES.

Autoria

Desde a edição passada, a informação sobre a participação de cada um dos autores é obrigatória nos artigos, tendo que ser inserida já no processo de submissão [2]. Além do DORA, tal prática também é incentivada pelo International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), que inclusive inseriu mais um item nos critérios de autoria: "Concordância em ser responsável por todos os aspectos do trabalho no sentido de garantir que as questões relativas à exatidão ou integridade de qualquer parte da obra foram devidamente investigadas e resolvidas". A questão é tão importante que foi tema de um Editorial publicado na prestigiosa revista Science, de 31 de agosto de 2013 [3].

Os autores de trabalhos submetidos à RBCCV anteriormente a essa determinação serão solicitados a prestar essa informação, quando o artigo for aprovado.

 

APP

Estamos finalizando o desenvolvimento de aplicativo (APP) que poderá ser baixado gratuitamente em iPhones, iPads (que usam sistema IOS) e Smartphones e Tablets (que utilizam sistema Android), e dará acesso ao conteúdo completo da RBCCV/BJCVS. Dessa forma, proporcionaremos mais opções de acesso a nossa revista, aumentando, consequentemente, sua visibilidade.

Inglês

A partir desta edição, os títulos de todos os artigos serão escritos primeiro em inglês e, em seguida, em português. A intenção é facilitar e incentivar o acesso à versão eletrônica, nos sites www.bjcvs.org e www.rbccv.org.br, nos mais de 100 países que nos leem todos os dias .

Também, ao acessar o nosso site, será aberta a versão em inglês. Para mudar para o português bastará clicar sobre o ícone com a bandeira brasileira estilizada, no alto da página.

Dessa forma, poderemos aumentar ainda mais o número de acessos. Em julho deste ano, apenas no site da revista, foram registrados mais de 123 mil acessos, com média diária superior a 3.960 (Figura 2). No site na SciELO (www.scielo.br/rbccv), foram realizados mais de 38 mil acessos aos artigos, com média diária de 1.250, totalizando mais de 5.200 artigos lidos por dia!

 

 

Ensaio clínico

Continuaremos a manter os critérios rígidos na avaliação dos trabalhos, mantendo, também, a RBCCV/BJCVS como um fórum de debates.

Na página 412, uma carta do Dr. José Maria Pereira de Godoy questiona os critérios que definem as fases de um ensaio clínico. Como o tema é controverso, enviei uma cópia a alguns especialistas, que gentilmente aceitaram discorrer sobre o assunto. O debate não se encerra nesta edição e todos aqueles que desejarem contribuir podem submeter seus textos como Carta ao Editor, para serem publicados nos próximos números.

Aproveito para pedir a todos aqueles que estão cadastrados no Sistema de Gestão de Publicações (SGP) da RBCCV/BJCVS, seja como autor ou revisor, para que verifiquem seus dados e, caso necessário, os atualizem, a fim de que possam receber as informações durante a submissão e revisão dos trabalhos, evitando atrasos, que prejudicam a tramitação dos manuscritos.

 

EMC

Os artigos disponíveis para os testes pelo sistema de Educação Médica Continuada (EMC) são os seguintes: "Minimally invasive redo mitral valve surgery without aortic crossclamp" (pág. 325), "Effects of reprocessing on chemical and morphological properties of guide wires used in angioplasty" (pág. 331), "Risk factors for prolonged hospital stays after isolated coronary artery bypass grafting" (pág. 353), "Unstable angina does not increase mortality in coronary artery bypass graft surgery" (pág. 391).

Infelizmente, esse sistema de ensino não tem sido aproveitado da maneira que merece. Peço a todos os colegas que incentivem os membros das equipes e residentes para que façam os testes, uma facilidade que é encontrada em poucas revistas de primeira linha, sendo a nossa a pioneira no Brasil.

Recebam meu abraço e tenham uma excelente leitura!

REFERÊNCIAS

1. The San Francisco Declaration on Research Assessment (DORA) [Accessed: August 29, 2013]. Available at: http://am.ascb.org/dora/

2. Braile DM. Autoria no artigo científico: definindo o papel de cada um. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2013;28(2):I-II. [MedLine] Visualizar artigo

3. Authorship and accountability. Lancet. 2013;382(9894):744. [MedLine]

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