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RELATO DE CASO

Mixoma atrial esquerdo múltiplo: relato de caso

José Carlos Dorsa Vieira Pontes; Guilherme Viotto Rodrigues da Silva; Ricardo Adala Benfatti; João Jackson Duarte

DOI: 10.5935/1678-9741.20110030

INTRODUÇÃO

Os tumores cardíacos primários são condições raras, tendo uma incidência de 0,0017 a 0,19 em série de autopsias, sendo 60% destes benignos. Os mixomas são os tumores do coração mais comuns, respondendo por cerca de 50% dos tumores cardíacos primários benignos, sendo que a grande maioria se localiza no átrio esquerdo (AE), e 80% tem sua origem no septo interatrial. Clinicamente, se apresentam, quase sempre, com sinais e sintomas de doença da valva mitral ou de eventos tromboembólicos [1,2].

Por se tratar de um paciente com mixoma atrial esquerdo múltiplo, caso não reportado na literatura, é relatado o caso a seguir.

 

RELATO DE CASO

Paciente de 42 anos, sexo masculino, com queixa de dispneia progressiva, dois meses de evolução, classe funcional IV da New York Heart Association (NYHA), atendido no ambulatório de Cardiologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Na investigação diagnóstica foram solicitados: radiografia simples de tórax, eletrocardiograma e ecocardiograma transtorácico, que evidenciou retificação diastólica do septo interatrial e AE dilatado, com presença de duas massas arredondadas, móveis, com a maior medindo 5,3 x 3,2 cm, provocando obstrução da via de entrada do ventrículo esquerdo (VE), estimada em 0,67 cm2 de diâmetro. Evidenciando também AE de 50 mm; diâmetro ventricular direito de 37 mm; fração de ejeção (FE) de 72%; ventrículo direito (VD) com dimensões aumentadas. As massas aparentemente aderiamse ao anel mitral e à parede livre do AE (Figura 1), sugerindo mixoma, sendo proposto tratamento cirúrgico.

 

 

Após esternotomia mediana longitudinal, procedeu-se às canulações da aorta ascendente e das veias cavas superior e inferior, estabelecimento da circulação extracorpórea (CEC) com hipotermia moderada a 27ºC e utilização de cardioplegia cristalóide St. Thomas a 4ºC. Realizada atriotomia direita que não apresentava massas tumorais ou trombos, procedendo-se, então, a incisão transseptal, com visibilização de três massas unidas, diferentemente do ecocardiograma pré-operatório, originadas na desembocadura das veias pulmonares e na parede póstero-lateral atrial esquerda.

Posteriormente, realizou-se a ressecção das massas com eletrocautério convencional, sendo o material encaminhado para estudo anatomopatológico, confirmando-se o diagnóstico de mixoma. Em seguida, foi realizada revisão da cavidade, que não apresentava trombos ou massas, septoplastia, atriorrafia direita e saída de CEC, sendo o paciente encaminhado à recuperação cardíaca pósoperatória, recebendo alta no quarto dia após o procedimento.

No terceiro mês de acompanhamento pós-operatório, o paciente encontrava-se em classe funcional I da NYHA, com normalização dos padrões ecocardiográficos das câmaras direita e esquerda, bem como incremento da FE para 78%, com ausência de trombos intracavitários em AE e valva mitral dentro dos parâmetros da normalidade (Figura 2).

 

 

DISCUSSÃO

Os mixomas são os tumores cardíacos mais comuns, sendo geralmente solitários e localizados no AE. Bossert et al. [3] relataram apresentações anômalas dos tumores cardíacos em um estudo com 77 pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico, sendo confirmado mixoma em 59. Destes, 44 localizavam-se no AE, quatro no átrio direito (AD), biatrial em 10 casos e um paciente apresentava localização em VE.

Em outro estudo abrangendo 49 pacientes com diagnóstico de mixoma, 61,2% localizavam-se no septo interatrial, 26,5% em outras partes do AE, 6,1% originandose na valva mitral, 4,1% do AD e biatrial em 2%. Em um caso foi observado o tumor originando-se na base ventricular da valva mitral e outro apresentando múltiplos mixomas em ambos os átrios [4].

Há relatos de mixomas múltiplos em VD, originando-se da base ventricular da valva tricúspide e do septo interventricular [5], bem como múltiplos mixomas localizados em AD e VD, originando-se da parede livre do AD e da parede livre do VD, logo abaixo da valva tricúspide e do ápice ventricular [6].

Devido à localização e à morfologia menos prevalente do mixoma atrial em região atrial esquerda e morfologia multilobular, este presente relato evidencia uma apresentação morfológica rara e atípica dos mixomas, com manifestações clínicas clássicas, resultado cirúrgico pósoperatório satisfatório e recuperação funcional total do paciente em pós-operatório em curto prazo.

REFERÊNCIAS

1. Reynen K Cardiac myxomas. N Engl J Med. 1995;333(24):1610-7. [MedLine]

2. Vale MP, Freire Sobrinho A, Sales MV, Teixeira MM, Cabral KC Mixoma gigante em átrio esquerdo : relato de caso. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2008;23(2):276-8. [MedLine] Visualizar artigo

3. Bossert T, Gummert JF, Battellini R, Richter M, Barten M, Walther T Surgical experience with 77 primary cardiac tumors. Interact Cardiovasc Thorac Surg. 2005;4(4):311-5. [MedLine]

4. Keeling IM, Oberwalder P, Anelli-Monti M, Schuchlenz H, Demel U, Tilz GP Cardiac myxomas : 24 years of experience in 49 patients. Eur J Cardiothorac Surg. 2002;22(6):971-7. [MedLine]

5. Lobo Filho JG, Sales DLS, Borges AEPP, Leitão MC Mixoma de átrio direito com prolapso para o ventrículo direito. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2006;21(2):217-20. Visualizar artigo

6. Attar MN, Sharman DC, Al-Najjar Y, Moore RK, Millner RW, Khan SX A rare case of multiple right heart myxomas. Int J Cardiol. 2007;118(2):66-7.

Article receive on quinta-feira, 18 de março de 2010

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