Article

lock Open Access lock Peer-Reviewed

34

Views

ARTIGO ORIGINAL

Dez anos de cirurgia dos aneurismas e dissecções crônicas da aorta ascendente no Instituto do Coração - FMUSP

Ronaldo Ducceschi Fontes; Noedir A. G Stolf; Domingos D Lourenço Filho; Ricardo Tranchesi; Charles Mady; Antônio Carlos Pereira-Barreto; Fúlvio Pileggi; Adib D Jatene

DOI: 10.1590/S0102-76381991000100005

RESUMO

Entre janeiro de 1980 e dezembro de 1990, 109 pacientes com idade entre 12 e 70 anos, 86 do sexo masculino e 23 do sexo feminino, foram operados para tratamento de aneurismas e dissecções da aorta ascendente, associados ou não a insuficiência aórtica. Trinta e quatro pacientes estavam em classe funcional (CF) IV (NYHA), 51 em CF III, 18 em CF II e seis em CF I. Cinqüenta e dois pacientes tinham dissecção crônica da aorta, 29 tinham ectasia ânulo-aórtica, dez aneurisma sacular com insuficiência aórtica e os demais, diagnósticos associados. A mortalidade imediata foi de 12,8% (14 óbitos). Vinte e sete (24,7%) pacientes não foram acompanhados tardiamente. A mortalidade tardia foi de 13,4% (11/82). Dos 72 pacientes acompanhados clinicamente até 120 meses de evolução (três a 120 meses), 65 (90,5%) mantêm-se em CF I e II. Concluiu-se que: a operação de Bentall - De Bono, demonstra ter melhor resultado em relação às interposições de tubo (p < 0,01), com estimativa de função de sobrevida de 70% em 120 meses, com excelente evolução clínica tardia.

ABSTRACT

From January 1980 to Dezember 1990, 109 patients, 86 males and 16 females, ranging in age from 12 to 70 years, were operatated on for aneurysms or chronic dissections of the ascending aorta, associated or not to aortic valve insufficiency. Thirty-four patients were in New York Heart Association class IV, 51 in class III, 18 in class II and six in class I. Fifty-two patients had chronic aortic dissection, 29 annulo-aortic ectasia, 10 saaular aneurysm, remaining 8 ethiologics. The early mortality was 12.8% (14 deaths). Twenthy-seven patients were lost for follow-up during a period ranging from three months to 10 years (average 82 months). The late mortality was 13.4% (11/82). Among the 72 patients survivors, clinicai improvement was observed in the majority of patients (90.5% are in class I or II). Among the several operative techniques, the Bentatt and De Bono showed better early survival and is preferable option when indicated. The actuarial curve showed a 70% survival for the whole group, after 120 months. The results observed in terms of survival and clinical improvement suggest that surgery is the treatment of choice for aneurysms and chronic dissections of ascending aorta.
Texto completo disponível apenas em PDF.



Discussão

DR. PAULO P. PAULISTA
São Paulo, SP

Os meus cumprimentos aos autores, pela apresentação do excelente trabalho, e as minhas congratulações pelos dez anos festejados. Inicialmente, gostaria de esclarecer que nós, particularmente, não associamos os aneurismas verdadeiros, em geral decorrentes de aterosclerose ou lues, ainda presente em nosso meio, com os falsos aneurismas, conseqüentes do processo de dissecção aórtica, já que ambos têm etiologia, evolução e prognóstico diferentes. Em todo caso, com a finalidade de mostrar material semelhante, fizemos a associação dos aneurismas verdadeiros com os dissecantes crônicos, com cirurgia apenas na aorta ascendente, e encontramos, entre 1967 e 1991, um total de 263 pacientes, com 37 óbitos no hospital e 14,0% de mortalidade. Aumentamos o número total para 293, com 51 óbitos e 17,4% de mortalidade, ao incluirmos, em "dissecantes", todos os crônicos e também os agudos, pois estes originam aqueles. Houve acentuada diferença na mortalidade, muito menor nos aneurismas com associação de outros procedimentos, onde a mortalidade foi de 11,0%, em contrapartida com as correções isoladas, onde ela foi de 39,3%. A associação de implante de prótese ou de cirurgias de maior porte, como a de Bentall e De Bono, deram os índices mais baixos, com 6,2 e 7,1%. Já a associação de revascularização do miocárdio foi fator de sensível aumento na mortalidade, com 37,0%. Finalmente, desejaríamos lembrar que estamos com uma tendência em empregar a operação de Cabrol, em substituição à de Bentall e De Bono, já que a possibilidade de complicações decorrentes do reimplante dos óstios coronários na prótese da aorta ascendente ficam minimizados. Temos cinco casos, nos últimos seis meses, sem nenhum óbito. Novamente, cumprimentamos os autores do trabalho que comentamos e agradecemos o privilégio que a Comissão Organizadora nos deu.

DR. FONTES
(Encerrando)

Nós agradecemos ao Dr. Paulo Paulista os comentários sobre nosso trabalho, uma vez que ele tem contribuído para o tratamento de aneurismas de aorta em nosso meio, há vários anos. Em primeiro lugar, gostaria de esclarcer que as dissecções crônicas e os aneurismas da aorta ascendente foram agrupados na mesma casuística porque a evolução tardia do paciente operado, em nosso meio, foi estatisticamente semelhante. A revascularização miocárdica associada ao tratamento cirúrgico de aneurismas e dissecções de aorta ascendente teve um aumento não significativo na mortalidade e, nos últimos tempos, a freqüência de associação das duas doenças tem aumentado. Utilizamos a operação de Cabrol, conservando a valva aórtica, em dois pacientes, motivo de uma apresentação neste congresso; os dois pacientes evoluíram bem, sem insuficiência aórtica, porém um deles teve sangramento abundante durante o ato operatório. Não acredito que a operação de Cabrol minimize as complicações referentes ao reimplante das coronárias, pois os óstios coronários são inseridos na prótese tubular, sem possibilidade de revestir o enxerto com a "capa" do aneurisma, nem utilizar a "manobra" de Cabrol. Tenho algumas dúvidas ainda, quanto à normalidade do tecido valvar aórtico na doença ânulo-aórtica, a ponto de podermos preservá-lo. Acredito, particularmente, que, para alguns casos selecionados, a operação de Cabrol seja utilizada com baixo risco; entretanto, não gostaria de substituí-la definitivamente, pois considero nossos resultados imediatos e tardios excelentes. Finalmente, agradeço à Comissão Organizadora do Congresso, pela oportunidade que nos ofereceu.

REFERÊNCIAS

1. ACAR, J.; GUIMARD, A.; BANDOUY, P. A. - Les insuffisances aotiques par aneurysme dystrophique de l'aorte ascendante. Arch. Mal. Coeur., 72: 596-605,1979.

2. ASANO, K.; ANDO, T.; HANADA, S.; MARUYAMA, Y. - Control of bleeding during the Bentall operation. J. Cardiovasc. Surg., 24: 13-14, 1983.

3. BACHET, J.; GIGOU, F.; LAURIAN, E.; BICAL, O.; GOUDOT, B.; DUBOIS, C.; BRODARY, D.; GUILMET, D. - Quatre ans d'expérience clinique de la colle gelatine - resorcine - formol dans les dissections aigües de l'aorta ascendante. Arch. Mal. Coeur., 76: 87-94, 1983.

4. BENTALL, M. & De BONO, A. - A techinique for complete replacement of ascending aorta. Thorax, 23: 388-390, 1980.

5. CABROL, C. - Annuloplastie valvulaire: un nouveau procédé. Presse Med., 1: 366-369, 1972.

6. CABROL, C.; GRANDHBAKHCH, I.; CHAM, B. - Aneurysmes de l'aorte ascendante: replacement total avec reimplantation des arteries coronaines. Presse Med., 7: 363-365, 1978.

7. CABROL, C.; GANDJBAKHCH, I.; PAVIE, A. - Surgical treatment of ascending aortic pathology. J. Cardiac. Surg., 3: 167-180, 1988.

8. CABROL, C.; PAVIE, A.; GRANBJDAKHCH, I. - Complete replacement of ascending aorta with reimplantation of the coronary arteries: new surgical approach. J. Thorac. Cardiovasc. Surg., 81: 309-315, 1981. [MedLine]

9. CRAWFORD, E. S. - Aortic dissection. Ann. Surg., 208: 251-273, 1988.

10. CRAWFORD, E. S. - Progress in the treatment of thoracic aortic aneurysms. World J. Surg., 12: 805-809, 1988. [MedLine]

11. EDWARDS, W. S. & KERR, A. A. - A safer technique for replacement of the entire ascending aorta and aortic valve. J. Thorac. Cardiovasc. Surg., 59: 837-839, 1970. [MedLine]

12. EGLOFF, L.; ROTHLIN, M.; KUGELMEIER, J.; SENNING, A.; TURINA, M. - The ascending aortic aneurysm: replace o repair? Ann. Thorac Surg., 34: 117-124, 1982. [MedLine]

13. HASHIMOTO, A.; SHIMAZU, K.; NAKAMURA, K. - Later complication after composite replacement of anulo aortic ectasia. J. Cardiovasc. Surg., 24: 277-279, 1983.

14. HELSETH, H. K.; HAGLIN, J. J.; MANSON, B. K.; WICKSTRON, P. - Results of composite graft, replacement of aortic root aneurysms. J. Thorac. Cardiovasc. Surg., 80: 754-759, 1980. [MedLine]

15. MAYER, J. E.; LINDSAY, W. G.; WANG, Y.; JORGENSEN, C. R.; NICOLOFF, D. M. - Composite replacement of the aortic valve and ascending aorta. J. Thorac. Cardiovasc. Surg., 79: 816-824, 1978.

16. MILLER, D. C.; STINSON, E. B.; AFER, P. E.; MORENO-CABRAL, R. I.; REITZ, B. A.; ROSSITER, S. J.; SHUMWAY, N. E. - Concomitant resection of the aortic valve: operative and long-term results with "conventional" techniques in ninety patients. J. Thorac. Cardiovasc. Surg., 79: 388-401, 1980. [MedLine]

17. ORSZULAK, T. A.; CLEMENTS, I. P.; TINKER, J. H. - Björk-Shiley leaflet impairment in an ascending aortic conduit due to extrinsic compression by a false aneurysm. Ann. Thorac. Surg., 34: 706-709, 1982. [MedLine]

18. SIEGEL, S. - Estatística não paramétrica. São Paulo, Mc Graw-Hill, 1981, 350 p.

19. THEVENET, A. & MARY, H. - Problèmes chirurgicaux particuliers des dissections du syndrome de Marfan. Le remplacement de l'aorte ascendante et de la valve aortique avec reimplantation de coronaires: a propos de 3 cas. Ann. Chir. Thorac. Cardiovasc., 33: 632-636, 1979.

20. WHEAT Jr., M. N.; WILSON, J. R.; BARTLEY, T. D. - Successful replacement of the entire ascending aorta and aortic valve. JAMA, 188: 717-719, 1964. [MedLine]

CCBY All scientific articles published at www.bjcvs.org are licensed under a Creative Commons license

Indexes

All rights reserved 2017 / © 2024 Brazilian Society of Cardiovascular Surgery DEVELOPMENT BY